Isaac Sassi
3 min readAug 15, 2020

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15 de agosto de 1945. Meio-dia, no horário oficial do Japão. Iniciava-se um evento histórico, um marco na história do Japão. O Gyokuon-hōsō — Transmissão da Voz de Jóia — passou a ser transmitido pelo rádio.

Era a primeira vez na história que o Imperador se dirigia ao povo comum. Também era a primeira vez que a grande maioria do povo comum ouvia a voz do Imperador.

O motivo era grave. Em 6 de agosto a cidade de Hiroshima, sede do 2º Quartel-General do Exército e base de defesa do sul do Japão fora bombardeada com o artefato nuclear “Garotinho”; em 8 de agosto, Stálin cumpriu o acordo secreto da Conferência de Yalta e violou o Pacto de Neutralidade Nipônico-Soviético no início da madrugada de 9 de agosto, iniciando a Invasão Soviética da Manchúria; e neste mesmo 9 de agosto a cidade de Kokura era salva pela ação conjunta das nuvens, da fumaça da Metalúrgica Yahata e por uma bomba de combustível defeituosa. Estes três fatores fizeram com que o Major Charles Sweeney levasse o B-29 Bockscar, carregado com o “Gordo” para o alvo secundário, a cidade portuária de Nagasaki.

Essa série de ataques concentrados colocou o Império Japonês em uma condição completamente insustentável no esforço de guerra e o Imperador Hirohito (Shōwa) reconheceu isso.

Apesar da obstinação contrária de seu conselho de guerra, que resultou numa tentativa de golpe conhecida como Incidente Kyūjō, o Imperador entendeu que aceitar a Declaração de Potsdam, que exigia a rendição completa e total, era a única forma de evitar mais prejuízos ao Império.

O Imperador também tinha plena consciência da obstinação cultural do povo japonês, que criou cenas impensáveis para qualquer outro país do mundo. Desde soldados que se atiravam de despenhadeiros para não serem capturados; massacres brutais nos territórios ocupados; ataques suicidas dos kamikaze no ar e dos kaiten na água; até cenas que parecem saídas de páginas de ficção barata, como o caso de Shoichi Yokoi, que foi encontrado em Guam em 24 de janeiro de 1972 ainda lutando contra os Estados Unidos em nome do Imperador; de Hiroo Onoda, que combateu nas Filipinas até ser formalmente liberado do dever em 1974 (ele se mudou para o Brasil em 1975 e mesmo após seu retorno ao Japão em 1984, ele ainda passava três meses por ano no Mato Grosso do Sul, de onde recebeu o título de cidadão pela Assembleia); e Teruo Nakamura, que combatia na Indonésia até 18 de dezembro de 1974.

Estes foram os motivos que levaram o Imperador ao rádio.

Assim, em 15 de agosto de 1945. Meio-dia, no horário oficial do Japão, a Voz de Joia do Imperador informava a todos os seus súditos que “[…] o inimigo usa uma nova e cruelíssima bomba, cujo poder destrutivo é, de fato, incalculável, e cobrou muitas vidas inocentes. Caso continuemos lutando, ela não somente resultaria no colapso absoluto e obliteração da nação japonesa, mas levaria também à extinção da civilização humana.

Sendo este o caso, como salvaríamos nossos milhões de súditos, e como nos expiaríamos diante dos espíritos sagrados de nossos ancestrais imperiais? Por esta razão nós ordenamos a aceitação das providências emanadas da declaração conjunta das potências.”

Segue abaixo o áudio original:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/42/Imperial_Rescript_on_the_Termination_of_the_War.ogg

Publicado em 15 de agosto de 2020.

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